sábado, 14 de agosto de 2010

A lareira

Aquele Inverno estava a ser demasiado violento. O vento e a chuva pareciam não mais ter fim e os campos iam ficando cada vez mais encharcados.


Os habitantes da vila começavam a ficar inquietos, se o tempo não mudasse o que iria ser deles e das suas famílias, se o seu trabalho era o arranjo das terras? Sem jorna, quanto tempo mais iriam sobreviver?...

Em casa de Aurora já nada tinham em que pôr olhos. Alguém bateu à porta, era a avó da miúda que viera visitá-los e trazer alguns matimentos.

Esta vivia numa vila perto. Aurora ficara louca de contente, para além de gostar muito da avó sabia que nesse dia as coisas iriam melhorar um pouco. Assim foi.

Antonia abrira um cesto de tampa que trazia e, como por encanto, começaram a sair do mesmo, pão,azeite, ovos,azeitonas, batatas, feijão e ainda algumas fatias de guleima que era o nome dum bolo que ela fizera lembrando-se dos netos.

Era como se o Inverno tivesse parado lá fora e o sol voltasse a nascer...

A mãe de Aurora colocara sobre o borralho, a trempe de ferro e sobre esta a tijela de fogo, onde foram caindo rodelas de batata e de cebola que depois de algum tempo de cozedura, se transformaram num delicioso banquete. Os olhos de Manuel, o irmão mais novo de Aurora brilhavam de contentes. A avó mal o cozinhado ficou pronto colocou num cantinho da lareira, sobre uma pequena mesa que tinham, um pequeno prato e chamou: - Manuel, vem cá filho, vem que a avó dá-te a comida. Acabada a refeição, a avó voltou para sua casa.

João o pai de Aurora, saira um pouco até à taberna onde era costume juntar-se com os seus companheiros de trabalho, Maria ficara sentada à lareira com os seus dois filhos, aproveitando para remendar alguma roupa do marido. Entretanto tinha anoitecido, era preciso acender a candeia e deitar o Manuel que já dormia.

Depois disto,continuou costurando, enquanto Aurora sonhava acordada, era como se não estivesse ali, de olhar fixo no brazido ouvindo o crepitar deste donde de vez em quando se soltavam pequenas labaredas. Maria pegava na tenaz e atiçava o borralho encostando ao mesmo, a chocolateira de zinco.

Aurora continuava absorta, diliciando-se com o bsss bsss que emanava da mesma, o vento soprava lá fora, entrando pelas frinchas da janela, fazendo tremer a luz da candeia, cuja sombra se refletia na parede formando fantasmagóricas figuras. E assim, aos poucos o sono foi tirando Aurora do seu enlevo.

Manuela Mendes

2 comentários:

  1. Ola.
    Queria agradecer-te por até que enfim divides com o mundo o muito que vai dentro de ti.
    Bem hajas.
    Amigo e filho
    Fernando

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  2. Acredite que por momentos me senti o "Manuel" da sua linda história. Escreva, escreva e faça o que o seu filho lhe disse: "divida o mundo que vai dentro de si".
    Não tenha vergonha das palavras bonitas que sabe escrever.

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