segunda-feira, 30 de agosto de 2010

POR DETRÀS DA VIDRAÇA

Rompe o sol detrás do monte
das aves ouve-se a voz,
fica belo o horizonte
há mais calor entre nós.

Eu fico atrás da vidraça
duma pequena janela,
vejo tudo o que se passa
não posso passar sem ela.

Vejo passar à tardinha
de olhar distante e profundo,
uma mulher já velhinha
que vive só no seu mundo.

Vejo e oiço na gaiola
numa pequena viela,
um canário amargurado
por não ter uma janela

Na rua que fica em frente
há uma roseira encarnada,
que suavisa o ambiente
duma casa abandonada.

Escurece, fecho a janela,
já sinto a noite a chegar,
só vou voltar para ela
quando o sol despertar...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

CAMINHANTE...

Onde vais caminhante?
começas a ficar cansado da caminhada...
os caminhos estão velhos e gastos.
e no bornal que tens? Está vazio, não tem nada.


Ó caminhante do bornal vazio,
não há só Outono também vem o Estio,
com ele vem o sol, o calor,
e até mesmo a esperança vai voltar...
enche o teu bornal,
porque a estrada é longa e tens que caminhar...
sim, enche-o de luta,de coragem,até de alegria.
Mas se for difícil, não o deixes oco,
põe-lhe dentro ao menos fantasia...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

CONTEMOS HISTÒRIAS!...

Neste mundo em reboliço,anima-me a ideia, de que se fala ainda em histórias e contadores das mesmas.Pessoas que se empenham deste modo, a não deixar morrer o passado e falar das injustiças passadas e presentes,sem descuidar as coisas boas que a vida tem e que nem sempre damos por elas.

Era apenas um sonho...
O relógio despertador acabava de tocar. Era o princípio de mais um dia de labuta. Maria Clara levantou-se,e depois de cuidar da sua higiene, foi para a cozinha tratar dos pequenos almoços. Levantou a persiana, abriu as vidraças e ficou para ali... estava tudo tão sereno!... Só uma aragem muito suave se manifestava, agitando as rosas duma roseira que havia no jardim em frente de sua casa. Que bem se sentia!... Sobressaltou-se;porém,quando viu as horas,ainda tinha que cuidar de Terezinha sua
filha. Luis o marido, despachava-se à pressa,já não era cedo.
-Maria Clara, estão prontas? -perguntava.
-sim, mais ou menos-Respondia esta. E numa correria, lá seguiam.
Luis tinha uma pequena mercearia. Antes de abrir a porta deixava a filha e a esposa na escola, onde esta era professora. Terezinha estava no seu primeiro ano escolar, na sala ao lado daquela onde a mãe dava aulas.
Maria Clara mal entrou na sala, começou a encaminhar as coisas para a lição de leitura.- Tirai os vossos livros-disse. Ao som de um pequeno burburinho de fechos, os livros iam aparecendo sobre as carteiras. -Vamos começar!
Dizendo isto reparou que, ao fundo da sala, estava uma aluna triste e meio desajeitada. Maria Clara perguntou:- Então Rita porque esperas que não tiras o teu livro? Rita, chorando, respondeu:- Eu não tenho livro, senhora professora, os meus pais não podem comprá-lo. O meu pai está desempregado... A professora tentando remediar o embaraço da miúda chamou.-Vem cá- Pegou num livro que tinha sobre a secretária e disse-lhe: - Pronto, não te aflijas, fica com este que te ofereço eu. Rita chorava e ria ao mesmo tempo, dizendo.-Obrigada senhora professora...
Esta ficava para ali, comovida, pensando: Que mundo este em que vivemos: Guerras,injustiças,fome. Podia ser tudo tão diferente!...
Maria Clara era sensível e sofria com os problemas que os alunos traziam para as aulas: pais separados em conflito pela tutela dos filhos, crianças mal alimentadas por
falta de meios, pais desempregados ou com baixos salários. Sentia-se impotente. Que
poderia fazer mais, do que ensinar e tratar bem os seus alunos?
Findas as aulas, esperou pela filha e foram para casa. Luis só chegava à noite.Depois
de pronto o jantar, mãe e filha foram regar o jardim. Terezinha tinha a seu cargo algumas plantas,regava com um pequeno regador. A mãe tentava serenar as emoções do dia, cotemplando as suas flores que, indiferentes estavam cada dia mais lindas.
Anoiteceu. Sentados à mesa, Maria Clara reparou que o marido estava com um ar cansado
- Terezinha, dá um beijo ao pai e vamos para a cama -Estes abraçaram-se e meia hora depois, a pequena dormia a sono solto. - Luis hoje estás muito cansado?-perguntava a esposa. - Sim não foi fácil o dia. Hoje apareceu-me lá a tia Carlota muito angustiada, a pedir: -Luis, vende-me um pão e uma garrafa de azeite que mal chegue a minha reforma eu venho pagar. Deixei agora o resto do dinheiro que tinha, na farmácia
Pois sim, tia Carlota vá descansada. Mas se isto continua assim...não sei.
Maria Clara olhando o relógio disse: É muito tarde. Amanhã é outro dia de luta.
Havia música e alegria por todos os lados, no ar subiam balões de todas as cores.As crianças faziam jogos e cantavam alegremente. Os pais embevecidos,estavam felizes! Ao longo duma sala havia uma mesa, coberta de comida. A escola estava em festa...Tudo
tinha mudado... O despertador tocou, mais um dia ia começar... Maria Clara acordou meio estremunhada e ficou pensativa. Afinal não passava de um sonho...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

NADA.

Nada,nada de nada,
de nadas eu enriqueci,
são meus os oásis do deserto
e foi no deserto que te conheci.
São minhas todas as plantas,
que à beira dos caminhos estão a despontar.
É meu o sol, é minha a chuva,
e eu sem nada ter para te dar.
Amiga solidão fica comigo...
e serão teus também,
todos os meus nadas.

DIVAGANDO...

Vestes-te de cores rúberas
como se fosses tarde radiosa do mês de Abril
e eu faço o teu jogo.
Recalco a verdade cá bem no fundo,
na ânsia febril de que fosses diferente
e diferente fosse também o meu mundo.
És cinzenta, cinzenta
como cinzentas são todas as tardes,
dum rigoroso inverno.
Eu aprisionada neste inferno,
faço o teu jogo solidão.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

QUADRAS SOLTAS.

AVIS em dimensão és pequena
muito grande no valor,
de estar longe tenho pena
para te dar só tenho amor.

Oiço os sons da alvorada
acordo pensando em ti,
minha terra abençoada
és a terra onde eu nasci.

Meu Alentejo fagueiro
cheio de encostas e montes,
ainda sinto o teu cheiro
oiço correr tuas fontes.

Das aves oiço o gorjeio,
dos rebanhos o chocalho,
e o povo no seu anseio
sai de casa p'ró trabalho

Assim ao romper do dia
a recordar o passado,
cresce a minha nostalgia
meu Alentejo adorado.

Quero-te fazer a promessa
ainda que eu esteja ausente,
a minha verdade é esta:
tu estarás sempre presente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Para aqui estou a divagar...

Minha casa é pequenina
construida num cantinho,
repartua com uma andorinha
que no beiral fez seu ninho

De manhã quando desperto,
gosto de pôr-me à janela,
onde de biquito aberto
parece querer-me dizer
que a casa também é dela.

Fico para ali parada...
a ouvir o seu gorjeio,
duma nuvem meio rasgada
rompe o sol pelo meio,
que resplendor...
à janela do meu quarto,
repartimos o calor,
do sol que já vai alto.

Gosto de Música, Poesia, Teatro, Arte. Porque não fantasiar um pouco?

M. Mendes.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

AS MINHAS MENTIRAS

Era uma tarde fria e chuvosa do mes de Novembro. Eu não estava bem sentia-me cansada e com uma necessidade imensa de alguma coisa que me aliviasse o espírito. Sentei-me em frente do computador onde costumo consultar alguns blogues de pessoas amigas. Por aquilo que ia lendo podia ver que eram comuns os anseios por um mundo melhor e mais verdadeiro. Passou algum tempo, continuava a não me sentir bem. Desliguei o computador, aticei a minha memória e voltei atrás recordando assim a minha meninice que não foi fácil, mas vivida numa das Províncias mais lindas do nosso Pais: Alentejo é o seu nome! Por mais mentiras que se digam a seu respeito, há verdades que não podem ser ignoradas: a sua beleza por exemplo. É feito de casas muito brancas, nos campos o ar é puro e cheiroso a flores e plantas campestres, ao som de concertos musicais feitos pelas aves que indiferentes saltitam de árvore para árvore.
Recordei-me então de algo que, na minha inocência, me fazia feliz: Meus pais eram trabalhadores rurais, levando-me assim com eles para os campos onde trabalhavam. Era o tempo das ceifas. Para me defender do calor do verão compraram-me um chapéu de palha de várias cores: vermelho, amarelo, azul e outras mais. Assim quando o sol ficava alto, lançando para a terra os seus intensos raios, eu deitava-me no chão, punha sobre o rosto o meu chapéu de cores e os raios do sol, incidindo em cada uma delas transformavam a minha existência ao ver tão belo espectáculo.
Comecei muito nova a sentir-me atraída pelas coisas da arte e por tudo em que pudesse aprender... Reconhecendo isso, o tio Manuel, um velhinho muito pobre que por sinal era meu avô, dizia sempre que me via:
-Hás-de ir estudar, minha filha, o avô paga-te os estudos.
Que entusiasmada que eu ficava!... Na minha ingenuidade, nem me apercebia que isto me era dito, sempre que ele bebia uns copos. Talvez para esquecer que por mais que gostasse de cumprir a promessa, não tinha possibilidades para o fazer. Enquanto durava o efeito da mentira eu era feliz.
Não gostei muito quando apareceu lá em casa um bebé gordinho e anafado que eu não compreendia donde tinha vindo.
Surpresa e espicaçada pela curiosidade, lembro-me que perguntei a minha mãe,que com um ar muito ternurento me respondeu que o meu maninho tinha vindo numa caixa de sardinhas do senhor Francisco Figueiras que era o dono da peixaria da vila. Mais uma mentira! Mas desta vez eu não fiquei lá muito convencida. Por mais que cheirasse o cachopo, não me cheirava a sardinhas, mas sim a sabonete. Bem ou mal cheiroso, sei que, no dia seguinte, já estava apaixonada por ele e desinteressada do lugar donde tivesse vindo.
Quantas saudades tenho dessas mentiras! Apetecia-me voltar a ter o meu chapéu de palha e, com a mesma inocência voltar a ver o mundo das mesmas cores... Mas não, o tempo vai passando e, envoltos numa sociedade mentirosa que nos envolve com promessas enganosas, chegamos a enganar a nossa própria verdade para não quebrar a regra. A tarde já ia alta e a chuva tinha parado. Fui junto da janela e vi que por entre as nuvens o sol espreitava como querendo lembrar-me desta vez, que a última coisa que se perde é a esperança.

Manuela Mendes

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Página em branco.

Para aqui estou, em frente desta página em branco com as coisas em turbilhão dentro do peito, sem saber como deitá-las cá para fora. Olho para o papel e é como se fosse um grande muro,dificíl de saltar para o outro lado,onde muita coisa há para descobrir e a ansia de o saltar é cada vez maior,mas o papel continua por escrever. Gostava de falar de tantas coisas...Do nascer e por do sol,de pássaros de asas cortadas,do desabrochar duma rosa,da fome,do regato onde as águas cristalinas correm sem nada que as prenda, do sorriso sempre puro duma criança,eu sei lá que mais...
mas o papel coninua por escrever.

Manuela Mendes

sábado, 14 de agosto de 2010

A lareira

Aquele Inverno estava a ser demasiado violento. O vento e a chuva pareciam não mais ter fim e os campos iam ficando cada vez mais encharcados.


Os habitantes da vila começavam a ficar inquietos, se o tempo não mudasse o que iria ser deles e das suas famílias, se o seu trabalho era o arranjo das terras? Sem jorna, quanto tempo mais iriam sobreviver?...

Em casa de Aurora já nada tinham em que pôr olhos. Alguém bateu à porta, era a avó da miúda que viera visitá-los e trazer alguns matimentos.

Esta vivia numa vila perto. Aurora ficara louca de contente, para além de gostar muito da avó sabia que nesse dia as coisas iriam melhorar um pouco. Assim foi.

Antonia abrira um cesto de tampa que trazia e, como por encanto, começaram a sair do mesmo, pão,azeite, ovos,azeitonas, batatas, feijão e ainda algumas fatias de guleima que era o nome dum bolo que ela fizera lembrando-se dos netos.

Era como se o Inverno tivesse parado lá fora e o sol voltasse a nascer...

A mãe de Aurora colocara sobre o borralho, a trempe de ferro e sobre esta a tijela de fogo, onde foram caindo rodelas de batata e de cebola que depois de algum tempo de cozedura, se transformaram num delicioso banquete. Os olhos de Manuel, o irmão mais novo de Aurora brilhavam de contentes. A avó mal o cozinhado ficou pronto colocou num cantinho da lareira, sobre uma pequena mesa que tinham, um pequeno prato e chamou: - Manuel, vem cá filho, vem que a avó dá-te a comida. Acabada a refeição, a avó voltou para sua casa.

João o pai de Aurora, saira um pouco até à taberna onde era costume juntar-se com os seus companheiros de trabalho, Maria ficara sentada à lareira com os seus dois filhos, aproveitando para remendar alguma roupa do marido. Entretanto tinha anoitecido, era preciso acender a candeia e deitar o Manuel que já dormia.

Depois disto,continuou costurando, enquanto Aurora sonhava acordada, era como se não estivesse ali, de olhar fixo no brazido ouvindo o crepitar deste donde de vez em quando se soltavam pequenas labaredas. Maria pegava na tenaz e atiçava o borralho encostando ao mesmo, a chocolateira de zinco.

Aurora continuava absorta, diliciando-se com o bsss bsss que emanava da mesma, o vento soprava lá fora, entrando pelas frinchas da janela, fazendo tremer a luz da candeia, cuja sombra se refletia na parede formando fantasmagóricas figuras. E assim, aos poucos o sono foi tirando Aurora do seu enlevo.

Manuela Mendes