quarta-feira, 18 de agosto de 2010

AS MINHAS MENTIRAS

Era uma tarde fria e chuvosa do mes de Novembro. Eu não estava bem sentia-me cansada e com uma necessidade imensa de alguma coisa que me aliviasse o espírito. Sentei-me em frente do computador onde costumo consultar alguns blogues de pessoas amigas. Por aquilo que ia lendo podia ver que eram comuns os anseios por um mundo melhor e mais verdadeiro. Passou algum tempo, continuava a não me sentir bem. Desliguei o computador, aticei a minha memória e voltei atrás recordando assim a minha meninice que não foi fácil, mas vivida numa das Províncias mais lindas do nosso Pais: Alentejo é o seu nome! Por mais mentiras que se digam a seu respeito, há verdades que não podem ser ignoradas: a sua beleza por exemplo. É feito de casas muito brancas, nos campos o ar é puro e cheiroso a flores e plantas campestres, ao som de concertos musicais feitos pelas aves que indiferentes saltitam de árvore para árvore.
Recordei-me então de algo que, na minha inocência, me fazia feliz: Meus pais eram trabalhadores rurais, levando-me assim com eles para os campos onde trabalhavam. Era o tempo das ceifas. Para me defender do calor do verão compraram-me um chapéu de palha de várias cores: vermelho, amarelo, azul e outras mais. Assim quando o sol ficava alto, lançando para a terra os seus intensos raios, eu deitava-me no chão, punha sobre o rosto o meu chapéu de cores e os raios do sol, incidindo em cada uma delas transformavam a minha existência ao ver tão belo espectáculo.
Comecei muito nova a sentir-me atraída pelas coisas da arte e por tudo em que pudesse aprender... Reconhecendo isso, o tio Manuel, um velhinho muito pobre que por sinal era meu avô, dizia sempre que me via:
-Hás-de ir estudar, minha filha, o avô paga-te os estudos.
Que entusiasmada que eu ficava!... Na minha ingenuidade, nem me apercebia que isto me era dito, sempre que ele bebia uns copos. Talvez para esquecer que por mais que gostasse de cumprir a promessa, não tinha possibilidades para o fazer. Enquanto durava o efeito da mentira eu era feliz.
Não gostei muito quando apareceu lá em casa um bebé gordinho e anafado que eu não compreendia donde tinha vindo.
Surpresa e espicaçada pela curiosidade, lembro-me que perguntei a minha mãe,que com um ar muito ternurento me respondeu que o meu maninho tinha vindo numa caixa de sardinhas do senhor Francisco Figueiras que era o dono da peixaria da vila. Mais uma mentira! Mas desta vez eu não fiquei lá muito convencida. Por mais que cheirasse o cachopo, não me cheirava a sardinhas, mas sim a sabonete. Bem ou mal cheiroso, sei que, no dia seguinte, já estava apaixonada por ele e desinteressada do lugar donde tivesse vindo.
Quantas saudades tenho dessas mentiras! Apetecia-me voltar a ter o meu chapéu de palha e, com a mesma inocência voltar a ver o mundo das mesmas cores... Mas não, o tempo vai passando e, envoltos numa sociedade mentirosa que nos envolve com promessas enganosas, chegamos a enganar a nossa própria verdade para não quebrar a regra. A tarde já ia alta e a chuva tinha parado. Fui junto da janela e vi que por entre as nuvens o sol espreitava como querendo lembrar-me desta vez, que a última coisa que se perde é a esperança.

Manuela Mendes

1 comentário:

  1. Afnal, se virmos bem, toda a nossa vida é feita de pequenas mentiras que por vezes se tornam em penosas e grandes verdades.
    Gostei do que escreveu. Continue.

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