domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ao ler uma revista por acaso.

Estando a ler uma revista, deparei com uma história da autoria do jornalista João Miguel Tavares e fiquei sensibilizada, não resistindo á ideia de a transcrever.
Começava assim:- A minha avó Maria.
A minha avó Maria morreu aos 90 anos sem ver o mar. Sem ver Lisboa. Sem praticamente sair da terra onde nasceu e sempre viveu. Era uma mulher extremamente afectuosa, mas de um outro tempo,onde imperava a simplicidade de procedimentos e uma forma descomplicada de olhar para a vida,que se foi esgotando na entrega ao trabalho, ao marido, aos filhos,aos netos, sem que houvesse necessidade de reflexões existenciais ou grandes conversas pelo meio.Como ela morava numa aldeia a 10 quilómetros de Portalegre,eu era apenas visita de sestas-feiras à noite, e bem vistas as coisas foi isso que sempre fiz ao longo de trinta anos: visitá-la, perguntar-lhe como passava, gastar meia hora em conversa de circunstância,dar-lhe um beijinho de despedida,(agora tenho mesmo de ir) por causa disto ou daquilo. No fim das visitas,ela fazia sempre questão de ir ao porta-moedas entregar-me uma notinha ou uma moeda,um pequeno acrescento financeiro à complacência com que me deixava roubar pastilhas gorila da montra da sua mercearia quando eu era mais pequeno. Foram assim as visitas com os meus pais nos anos 80, depois com a minha namorada nos anos 90, a seguir com a minha mulher nos anos 2000,finalmente com os meus filhos, um, dois, três, sempre que ia à terra. Até ao fim.
Hoje olho para trás e questiono-me o quão distantes podemos estar de pessoa que nos estão tão próximas. Afinal,que soube eu desta mulher, que colocou luto cerrado quando o seu marido morreu,pouco depois de eu ter nascido,e que sempre conheci vestida de preto, da cabeça aos pés? Que soube eu das suas ambições, dos seus sonhos mais secretos, daquilo que gostaria de ter sido no mais intimo de si?Nada, na verdade, porque a minha avó sempre foi para mim uma espécie de rotina sentimental, um amor adquerido que simplesmente existia. Ali estava ela, na casa de sempre, no sofá de sempre, recebendo-me da mesma forma jubilosa quando me via entrar- ( ai, meu querido filho!)- e despedindo-se com uma saraivada de beijos que só cessava quando eu decidia que era hora de libertar as minhas bochechas.
Quando expliquei ao Tomás que a bisa Maria tinha morrido, ele perguntou: ( Aquela que me dava smarties e moedinhas?)Sim´, Tomás, essa mesmo. A tua bisa Maria. Aquela que passou a sua vida a dar smarties e moedinhas áqueles que a rodeavam-porque dar era só o que sabia fazer.

Deixo ao critério de quem ler, com a certeza de que houve e continua a haver, muitas bisas Marias...



M Mendes

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